17 outubro, 2013

unfold me, i am small and needy.


Sentas-te num banco e esperas. Esperas pelo quê, ao certo? Pela vida que não vem a jeito para ser vivida, pelo amor que fica nas valetas a ressacar pelas noites mal dormidas, pelo cancro nos pulmões dos cigarros a meio da noite, e pelos dedos comidos pela nicotina e pelas rugas que nascem para nos mostrarem que a vida acaba e todos acabamos, por muito que nos tentemos enganar. Continuas sentado no banco, olhas em volta como quem não quer a coisa, como quem apenas procura um colega que ficou de se encontrar ali ou como se a paisagem foi especialmente encantadora, mas a paisagem é triste e esbatida debaixo de um tempo de chuva em pleno outono. Apenas vês os outros, e a vida que eles levam, e tudo te parece sorrisos e mãos dadas e perguntas-te, num súbito ataque de ciúmes, porque não podes ter aquilo, porque é que te limitas a sentar à espera que a vida te apanhe a meio da corrida e porque é que não consegues levantar-te do banco e ir apanhá-la. Tentas, tentas levantar-te mas é uma voz nos recônditos do teu cérebro e apenas serve para ser abafada pelo teu cérebro que te obriga a ficar onde estás, cada vez mais aconchegado no teu casaco grosso de meia-estação, num súbito ataque de voyerismo sem ser planeado. A vida parece tão fascinante quando és apenas um mero espectador, dá-te uma ânsia de ir vivê-la, emborcares as garrafas que tens em casa e fazeres grandes amigos só para se unirem pelas merdas que fizeram. Mas merda, a vida não é um livro e eu que o diga, e que dor de peito a de uma escritora de ver que a sua vida não enche nem umas meras páginas, a maior dor de alma de querer que a vida seja como um livro e saí tudo ao lado, é tudo deixado ao acaso que não cumpre o seu papel, nada segue o guião. E por muito que pense que a vida é algo belo, há sempre um buraco negro plantado e alimentado com carinho no centro do peito. E esse buraco negro chama-se de muitas coisas, por vezes de tristeza, de nostalgia, mas muitas das vezes tem o bonito nome de solidão. Solidão que entranha-se nos ossos como um qualquer perfume que nos embale. Solidão que cria raízes na mente e nós já não somos mais nada a não ser resquícios. A solidão é aquilo que te embala antes de fechares os olhos de noite, é aquele conforto dos lençóis quentes numa noite de inverno, mas a solidão gela por dentro. A solidão é um estado mental pior que cancro, desfigura a mente, e é por causa disso que nos mantemos no banco, incapacitados, amarrados, porque a solidão é um amigo que nos agarra pelas mãos e não nos deixa ir. É mais um peso nos ombros. E continuamos no nosso voyerismo, até um dia alguém, por acaso, alguém se sentar ao nosso lado e nos oferecer um cigarro e dois dedos de conversa. E nós vamos aceitar. E, talvez aí, a solidão nos deixe em paz.


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