28 março, 2015


A vida chega ao impasse em que já custa escrever. Mãos tropegas. Os dedos tremem e hesitam. Já nem se sabe se as palavras vão sair como um jorro de água ou se vão ficar estagnadas, sem qualquer possibilidade de virem a fluir novamente com as mesma mestria que uma vez já foi tida. A idade deveria aprimorar, mas a idade apenas fez com que o jeito se fosse perdendo, já não há prazer, já não há gosto, já não há orgulho naquilo que se escreve, naquilo que se deita para o papel. Só há frustração. As mãos na cabeça e os papeis espalhados pelo quarto, as folhas deixadas em branco, e a profunda tristeza de já nada existir da antiga glória. Há lágrimas espalhadas. A dor de perder algo de mim é excruciante, perder a minha identidade - não a perdi, deitei-a ao lixo, desprezei-a completamente - , e tudo aquilo que eu pensei manter-se constante. Não sei sobre que escreva. Nem sei se gosto ainda de escrever, de sentir a frustração de palavras feias escritas para tentar compensar o que não consigo dizer, a garganta apertada, as mãos que tocam ao de leve no teclado, com medo, sempre cheias de medo, como se ao soltar  uma palavra errada, nunca mais encontrarei o fio da minha meada. 

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