17 agosto, 2013

efemeridades apenas contidas num suspiro



Por vezes pergunto-me se nos conseguimos aperceber da própria efemeridade da vida, que de tão longa tem apenas o quê de que os anos se vão encurtando. Somos carne frágil que alberga pouco mais que uma mente em que a kryptonite é nada mais, nada menos que o próprio pensamente falacioso e abismal, e cortam-se as barreiras da sanidade e de tudo o que é canto de terra espreita algo que antes não lá estava, o espelho já não mostra carne sobre músculo sobre osso mas sim as feições retorcidas de algo que não identificamos mas compreendemos, porque no fundo de nós tudo é compreendido. As iluminações divinas são apenas fruto de uma mente que se libertou das amarras enferrujadas de algo que o humano criou - as doces palavras a agriolhar a garganta, apertanto até ficar sem respiração - e escrevemos histórias em papeís porque escrevê-las em carne e sangue é para aqueles a quem a vida significa mais que a própria alma; a vida que há de vir, assim se entenda, porque esta é um peso nos ombros e os ombros são frágeis como os de uma menininha subnutrida esquecida nas ruas frias. Já não entendo bem do que escrevo. Se me fartei de andar a vergar a cabeça à vida, as vénias sucessivas a reis e rainhas imaginários sem coroa e com barrigas cheias de um nada que se lhes entranha no sangue. Temos todos pulmões corroídos e coração escavados, mutilados porque não dá para mais nem para menos. Andamos a morrer antes de atingirmos o chão. Mortos em combate. Mortos em batalhas internas que são afogadas em medicação que queima o fígado e os rins, que abre as cicatrizes e rasga a pele até lhes deitar sal em cima para as purificar. Falta-nos jardins interiores onde consigamos ver a nossa própria efemeridade, e aprender a aceitá-la; as borboletas sabem que vão morrer em menos tempo que um suspiro de titã, e passam a vida rodeadas de jardins, as pétalas morrem no chão duro e as flores murcham e tudo muda porque matamos os jardins que queremos, sendo os nossos ou não. Somos menos que um suspiro moribundo de uma estrela, somos menos que a rotação completa de um planeta longínquo à volta do seu sol, e somos menos do que as estrelas que nos servem de teto. Somos humanos, egoisticamente orgulhosos, e eu orgulho-me dos nossos peitos orgulhosamente esmagados.

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