14 janeiro, 2015

thursday, 8 August


reflexão do medo


medo é uma palavra mal dita, mal amanhada, arranjada ao calhas nos confins da mente e atirada de um lado para o outro até ser impossível fugir dela - ganha significado, ganha estatuto, hierarquia total na sinapses cerebrais - e ganha contornos que temos medo de ver, fechamos os olhos e escondemo-nos porque encarar monstros de frente é sempre desafio. medo é quando as nossas costelas de partem e os músculos rompem pela garras em que o nosso coração se vê empalado, medo é ancora e por vezes medo é alívio, as mentes voltam sempre ao que mais lhes é familiar e o medo é mãe de toda a Humanidade se assim o encararmos. mas medo é mais que isso ; medo é cada partícula da nossa personalidade exposta num único nome, e, para mim, medo és tu. medo é o teu cheiro quando saís da minha beira e eu pensar que me vai escapar, que um dia o deixarei de sentir na minha pele. medo é olhar para ti e não saber quanto mais tempo posso olhar, quantas mais vezes te segurarei a mão e te abraçarei quando preciso de algo que me acalme a dor aberta no peito e na mente de anos de maus tratos auto-infligidos. medo é um dia eu esquecer-me da exacta pressão que a tua mão faz quando segura na minha, é esquecer a textura do teu cabelo e até as linhas do teu rosto.  medo é habituar-me à tua ausência, habituar-me à falta da tua pessoa ao meu lado constantemente, é habituar-me à falta de palavras. medo é um dia olharmos um para o outro com frieza no olhar e não com o calor de quem se ama, é ver-te afastar e construir muros à minha volta para que um dia não te veja mais. medo é adormecer ao teu lado e acordar contigo até que um dia adormeça sozinha e acorde numa cama fria. medo é esquecer a melodia da tua voz, as tuas entoações e a maneira como falas comigo. medo é lembrar o passado e não conseguir largá-lo, é as memórias que tenho de ti antes, de ti sem mim. medo é um dia atravessar a rua e ver-te, de mãos dadas com outra pessoa. medo é não querer que te vás embora. medo é saber que te dou de mim mais do que posso e do que devia, mas que não quero dar menos. medo é estar tão afeiçoada a ti, medo é fazer a minha vida à tua volta e contigo, medo é lembrar-me que comigo tudo acaba. medo nem sempre é um monstro debaixo da cama, medo muitas vezes é no coração. medo é não te ter comigo, porque se choro de medo, é porque o medo é mais forte que eu. aperceber-me que tenho tanto medo de um dia me encontrar sem ti deixa-me com mais medo - é ciclo vicioso, entendes, é ciclo que gera mais medo, o medo alimenta-se de si e a si mesmo. não sei o porquê de tanto medo, mas tenho. é medo de perder, de te perder. o medo moí-me o humor, deixa-me de rastos no chão, não me perdoa, não me deixa, e mesmo assim eu levanto-me e volto a abraçá-lo. medo. sempre medo. medo cresce quanto mais importante algo é. acredita que nunca senti tanto medo.

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