13 julho, 2013

escreve quando te aperta o peito

borbulham as palavras, cozinhadas num tacho lento de ansiedade
a verdade é que se se sentem desejosas por sair, e desejosas por sair estarão,
lembrar-se-ão certamente que estão enterlaçadas com a capacidade
-sempre frustrante, sempre frágil-
de os dedos serem rápidos o suficiente, ou se um dia se acaba papel e só se pode ir buscar no outro
perdem-se palavras, perdem-se vidas, perdem-se mundos.

se um dia se impedem que saía, as expressões mortas em linha no chão
a tinta não escorre sem previamente ser humedecida pela vontade que antecipa a escrita
e se um dia já não se acredita que se escreve, mas que se arranha o papel,
um dia a escrita morre, e tudo morre com ela.

e quando nos encontramos tão encerrados em nós, naquele local
- aquele onde as coisas más acontecem -
e sentimos que nada é o que deve de ser, sabemos sentir que tudo está errado,
mas e se por ventura está tudo certo, errado se fará tudo, porque assim terá de ser.

perder-se em devaneios, enquanto existe peso para ser levantando do peito
o peito não canta quando está atrofiado e se existe algum jeito de ser salvo este amor
eu já o teria arranjado, creio eu, cremos nós.

o problema não são as palavras, elas são companheiras fieís em dias de pobreza de espírito,
o problema está na alma de quem escreve, e se a alma se corrompeu,
se a alma não acredita que escreve
se a alma já não sabe o que é escrever
como pode a escrita sobreviver?

2 comentários:

  1. Eu não sei como, mas a escrita pode sobreviver. Ela sobrevive, por tanto pode sobreviver! Estes tempos, em que, como dizes, a alma não acredita que escreve, são tempos de ou desistir ou não. Eu não gosto de desistir. Se a alma não acredita, acredito Eu. Dói? Não faz mal. Habituas-te. Transformas-te.

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